Transformando o inferno das futuras gerações por Karin White

Fui informada de que nunca veria meu 21º aniversário. Era para se acreditar nisso. Abuso, abandono, violência e morte definiam minha vida. Minha avó, minha mãe e seus quatro filhos, duas tias e seus filhos, moravamos todos em uma casa de 4 cômodos na Filadélfia. Haviam de 10 a 16 pessoas morando nesta casa. Nossa familia vivia na miséria. Uma das minhas tarefas era catar lenha para o fogão, nossa única fonte de calor. A maioria dos adultos eram alcólatras que descontavam seus problemas nas crianças. Éramos constantemente espancados e muitas vezes trancados no porão sem luz, comida ou água e algumas vezes ficavamos lá por dois dias seguidos. Eu ia prá escola toda machucada e se a professora ligasse para casa para saber o que tinha acontecido com qualquer um de nós, as pancadas se intensificavam.

Meus irmãos e irmãs passaram a ser a razão de minha existência, porque eu sentia que eles dependiam de mim. O sofrimento e a dor acumulados em mim fizeram com que me tornasse hostil e raivosa, uma pessoa sem esperança e sem auto-estima. Aos 11 anos me internaram em uma instituição para meninas. Durante os proximos 6 anos mudei de um lugar para outro. Aos 17 anos, terminei em uma casa de correção para mulheres porque não tinha outro abrigo disponivel para mim. Estava cercada por mulheres que estavam presas por assassinatos, prostituição, e drogas. Era um ambiente horrivel/chocante e dali em diante tudo piorou.

Fui declarada uma menor emancipada e jogada sozinha, na sociedade. Estava nas ruas e completamente despreparada para lidar com o mundo em qualquer nível. Me tornei viciada em heroina. 

Uma manhã, acordei com o cano de uma arma pressionado em minha testa. Os sofrimentos que eu havia vivenciado em minha infancia se intensificaram.

Aos 18 anos fui prá prisão, debilitada pelo uso de heroina.  Três meses depois completei 21 anos de idade. Eu ficava me perguntando. Por que eu estou aqui? Então, um bêbado me abordou numa esquina de rua e me espancava repetidamente, abrindo minha cabeça com uma garrafa quebrada. Eu lutei o tempo todo, quando tudo acabou, fui para a cela de uma prisão e ele morreu no dia seguinte. Justamente quando fui libertada da prisão, um jovem me falou sobre recitar (Daimoku) enquanto eu esperava o ônibus. Então, comecei a ouvir sobre o NAM-MYO-HO-REN-GUE-KYO de várias pessoas. Algumas semanas mais tarde, eu fui a uma reunião sozinha.  Comecei a frequentar as atividades. Aprendi o gongyô, estudei e até mesmo fui a responsável por outra pessoa para receber o Gohonzon. Recitando e fazendo o gongyo foram as melhores coisas que aconteceram prá mim. Me fez sentir bem por dentro, acalmou o  meu ódio e me deu esperança. Comecei a ver o valor de minha vida.

Eu estava no serviço social, não tinha trabalho, não tinha dinheiro. Muitas vezes recitava por horas. Eu estava emocionalmente doente e pude sentir o daimoku me curando. Recebi também muitos beneficios conspícuos, incluindo um trabalho e um apartamento que pude pagar. 

Estava cheia de perguntas como: Por que eu tive que enfrentar tanto sofrimento? Qual o propósito de minha vida? Eu lia e recitava, lia e recitava. Então encontrei o Gosho que estabelece: 

Sofra o que tiver que sofrer, desfrute o que tiver que desfrutar. Sobre sofrer e desfrutar os fatos da vida, continue a recitar o NMHRGK, não importando o que aconteça. Experimentará uma alegria ilimitada da Lei. Fortaleça sua fé mais do que nunca.

Embora tenha apelado ao meu irmão muitas vezes para tentar praticar, ele recusava enfaticamente. Um dia, os filhos dele o assistiram matar a mãe dessas crianças e se suicidar, abandonando Rocky de 12 e Markita de 11 anos. As crianças estavam sofrendo. Eles eram como animais aterrorizados, experimentando todos os tipos de sintomas de traumas físicos e emocionais. Pesadelos, gritos, vômitos, suores, e fracassos na escola. Eles tinham medo até de ir de um cômodo ao outro sozinhos. De muitas formas, a condição de vida deles era uma imagem no espelho refletindo os sofrimentos que eu e meu irmão experimentamos. O prospecto de que todo aquele sofrimento iria continuar até a próxima geração era insuportável para mim. 

Após recitar abundante daimoku, consegui uma injunção do juiz com direito de visitação (as crianças foram enviadas á uma instituição). A primeira coisa que fiz foi ensinar as crianças a recitar daimoku. Eles obtiveram beneficios imediatamente. Os terriveis sentimentos de medo e todos os sintomas dos traumas sumiram. Começaram a sentir um senso de apreciação pelo Gohonzon. Finalmente, após mais de um ano de batalhas, ganhei a custodia das crianças. Eu lhes ensinei o gongyo e os ajudei a participar da Reunião Geral de Distrito de Nova York. Markita estava no Grupo dos Pioneiros Juniores e Rocky estava na Banda de Metais. Eles estavam tão felizes de poder participar do desfile. Assistindo-os enquando marchavam pelas ruas, não pude conter minhas lágrimas de alegria. 

Moramos em nossa própria casa agora e tenho um trabalho maravilhoso de assistente de professor em uma escola elementar onde a Markita estuda. Markita é uma estudante de honra e vice-presidente do conselho estudantil. Rocky está indo muito bem na escola e tem muitos amigos. Estas crianças são mensageiras do futuro do Kossen-Rufu. Elas são a prova viva de que nossa familia transformou seu destino.